quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A laranja verde não amadurece até 31 de outubro

A primeira consideração que faço diz respeito à realização do 2º turno na disputa pelo Palácio do Planalto. Em minha opinião, a eleição de Dilma Rousseff (PT) já no dia 3 de outubro era fato inevitável. No entanto, dois fatores fundamentais ocasionaram uma grande alteração nas tendências eleitorais: o surpreendente crescimento da senadora Marina Silva (PV), e a campanha suja empreendida pela assessoria de imprensa de José Serra (PSDB), leia-se Rede Globo, Folha de São Paulo, etc.

A fantástica votação dedicada à candidata verde surpreende porque, enquanto ex-petista, Marina não teve condições de se posicionar nem como candidata de oposição, nem de situação. Ela deixou o governo aos 43 (ou 45) do segundo tempo, com o pretexto de não concordar com a política ambiental executada pelo presidente Lula. Mas será que uma revolta tão repentina, às vésperas do pleito eleitoral, se justificaria? Ela passou mais de sete anos na base lulista!

Talvez, a segunda questão explique os quase 20 milhões de votos obtidos pela senadora, não previstos por nenhum instituto de pesquisa respeitável. Nos últimos 15 dias de campanha os veículos de comunicação, tomados pelo desespero de ver seu candidato afundar mais depressa que o Titanic, focaram ataques cruéis na candidata petista. Os jornalões, redes de rádio e TV e a internet se encheram de afirmações ofensivas e falaciosas contra Dilma.

O nível foi tão baixo, que a candidata do presidente Lula chegou a ser chamada de homossexual, por ser favorável à união civil entre cidadãos do mesmo sexo. Acredito que a responsabilidade maior pela queda da candidatura de Dilma deve ser creditada à pecha de “defensora do aborto”. Ela perdeu o importante apoio de grande parcela do segmento religioso, que se deslocou para a base da evangélica Marina Silva.

Neste texto, não entrarei no mérito das acusações. O fato é que todas as calúnias serviram para acentuar o crescimento da chamada “onda verde”, que está mais para “onda laranja”. Quem votou em Marina, sem querer, foi diretamente responsável pela chegada de Serra ao 2º turno. O candidato de Fernando Henrique Cardoso possui entre 30 e 35% das intenções de voto desde o ano passado, e assim deve permanecer até o fim do processo eleitoral.

A vantagem das forças progressistas é que, salvo raras exceções, os votos transferidos de Dilma para Marina dificilmente migrarão para Serra. Isso porque são votos ideológicos, que não concordam com a política neoliberal defendida pelo PSDB. Claro que será necessário um empenho da campanha vermelha em desfazer o estrago feito pela mídia golpista.

Marina, visando manter condições favoráveis para 2014, deve se manter neutra. Apoiar qualquer um dos presidenciáveis seria suicídio político. No entanto, essa iminente neutralidade não afetará a decisão de seu eleitorado. O grande contingente dos eleitores que optaram por votar no PV pode ser dividido em três grupos predominantes: os que votaram por convicção ideológica acerca da questão ambiental, e os que rejeitam ou o PT ou o PSDB.

Os primeiros, dificilmente aceitarão apoiar Serra, que já taxou os ambientalistas de militantes de “muito discurso e pouca prática”. A divisão entre os anti-petistas e anti-tucanos deve ficar bem semelhante, anulando-se uns aos outros. Isso seria suficiente para consolidar ampla vantagem para Dilma. Para seguir mudando, o Brasil só precisa ficar atento ao bombardeio midiático que ocorrerá em outubro.

9 comentários:

  1. Adorei: "não previstos por nenhum instituto de pesquisa respeitável". Sobre quem votou em Marina, sem querer, ser diretamente responsável pela chegada de Serra ao 2º turno, concordo, mas fica parecendo que temos sempre que optar pelo menos pior e mais bem colocado - o que de certa maneira é um fato..Vc escreve bem, Paulo. Tá no caminho certo.

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  2. Não é que somos obrigados sempre a votar no "menos pior". Existiam 9 candidaturas à presidênica, mas nao existiam 9 projetos para o Brasil. Claramente, sempre foram dois projetos. Campo popular-democrático (base lulista) e campo neoliberal (oposição), todo o resto era enrolação. Talvez com excessão do Plínio Sampaio, que fez um bom contraponto defendendo o socialismo. Marina é e sempre foi petista. O oportunismo eleitoreiro fez ela sair do PT. Só serviu para salvar os tucanos da extinção.

    Obrigado pelos elogios!

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  3. Acho que não haverá mais bombardeio midiático em que um contra-ataca o outro, digo de forma falaciosa. Se os candidatos forem espertos o suficiente, entenderão que agora têm que convencer a quem votou na Marina, como eu que pertenço ao "grupo" dos nem PT nem PSDB, de que seguirão numa única direção: a do Progresso, em diferentes âmbitos! Eu realmente acho que essa "laranja verde" apodrece antes mesmo de amadurecer, de NOS amadurecermos para bem votarmos, pelo simples fato de que ninguém saberá quando estará escolhendo o melhor (ou o “menos pior”, como citou acima). Adorei o texto! =*

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  4. José Serra já provou o contrário com o programa eleitoral de hoje na TV e no Rádio. Voltou a falar em aborto, relgião e outras baixarias que não contribuem em nada com o debate democrático. A laranja verde não amadurece no sentido de que não assumirá posição com convicção, e continuará a beneficiar o tucanato. Felizmente, Dilma está a poucos passos da vitória.

    Obrigado pela leitura, comentário e elogios!

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  5. "Felizmente, Dilma está a poucos passos da vitória". Acha mesmo? Pode até ser que ela chegue lá, mas teremos surpresas por ai. Acho que a disputa será apertada.

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  6. Duvido muito de surpresas. O cenário está definido e não temos tantas variáveis como no 1º turno. Matematicamente, Dilma só precisa de cerca de 15% do eleitorado da Marina para se eleger. Acredito numa vantagem expressiva.

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  7. PV Gomes demonstra incrível clareza de raciocínio nessa análise do processo eleitoral e da atuação de Marina Silva.

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  8. Eu já tinha lido o texto anteriormente, acho que é por aí mesmo, mas a eleição está muito dura, os votos da Marina vão "rachar" mesmo, resta ela sair de cabeça levantada do PV e mostrar que ainda tem respeito pelo que foi construído nesses últimos 8 anos, apoiando a Dilma. Da TV e dos Jornais, salvo os independentes, não vamos esperar ética alguma, só bombardeios de baixo nível! Que vença a Dilma, mas será dura a batalha companheiros!

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  9. Obrigado pelo elogio do grande amigo Vinícius e pela lucidez no comentário do outro grande amigo Lucas Marques (Social democrata do Sec. XXI). Vamos unidos mostrar às elites a força do povo! É Dilma presidente!

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